12.06.2008

O quadrado é mais difícil de carregar que o rectângulo

Neste mundo em que vivo, os gelados não se comem, porque é Inverno. As ideias são sufocadas porque...fazem comichão. Os boxers, por vezes, são excessivamente apertados, e tenho pouca comida no frigorífico.

E agora vou começar o meu texto, penso que tinha que me libertar da afirmação previamente proferida, por uma simples razão. Perguntam-me se a razão é a chatice dos boxers, o facto de ideias serem sufocadas ou de eu não ter comida no frigorífico. Não, o que me chateia é os gelados não terem uma maior saída no Inverno.

De facto, até me podia chatear os boxers apertarem-me as jóias da coroa, simplesmente porque dessa forma posso infligir danos nas minhas sementes e daí não ter sucessor para o meu ceptro de idiotice.
Podia-me chatear com a falta de alimentos nutritivos no meu frigorífico. Mas tal coisa não me ajuda a pôr a dita comida no dito aparelho. O que é que eu poderia fazer para ter alimentos no frigorífico? Tirar os alimentos dos meus room mates e colocar na minha parte e negar tal acto quando confrontado?

O que me pode chatear, até podia ser o facto das ideias serem sufocadas. Mas tal também é necessário e previsível. Porque eu pergunto a quem quer que seja que leia este conjunto de símbolos aleatórios que formulam um alfabeto, pergunto se alguém que não se visse pressionado quando tivesse uma ideia renovadora, se lhe iria dar o devido valor... todos gostamos de ter algum crédito na vida, e não me digam que não...todos querem. Todos gostam, mesmo por trás daquele aparente ar cool , por trás dessa máscara todos querem. E uma ideia proibida é mais apetecida. E se o facto de uma ideia ( num contexto renovador e não no contexto de " ah e que tal colocarmos o sofá mais para a esquerda?") ser constantemente aceite, por mais inovadora que seja, por todos, isso apenas enfraquece a sua força e por sua vez o rejubilo da detentora da ideia. Somente numa época pós-opressão, em que todos estão inspirados nas novas ideias é que elas surgem livremente pelo ar e são fortemente aceites!!! Mas é nesses casos que vários erros são cometidos e, 30 anos depois, vemos os frutos que plantámos cheio de minhocas...e nem para se usar na pesca servem. Logo, nem é isso que me chateia.

O que me chateia é não poder comer gelados... quer dizer, até os posso, mas para mim comer um gelado é estar na praia com calor, de calções ( largos), enquanto desfruto do gelado e penso em me atirar ao mar. Não posso fazer isso no Inverno.

Ou se calhar devia ter preocupações menos triviais e pensar no sentido das palavras e das coisas, do que é moralmente ético e da forma mais correcta de governar um povo...ou de não governar um povo... ou seja lá o que for...

São estas pequenas coisas que afectam uma pessoa no seu dia-a-dia. A raison d'être do nosso Estado, da nossa sociedade, a nossa moral e ética, isso foi construído ao longo de vários anos, e custou imenso e fez doer imenso a cabeça. Não me interessa, mais que os problemas graves em vários pontos do mundo, a própria situação do meu país que não me afecte directamente. E foram sempre pessoas muito inteligentes que trataram desses assuntos. Isso a mim não me interessa. Mas o Benfica ter um Quim que anda a sofrer muitos golos... este mundo é mesmo nojento! E eu não censuro ninguém que assim pense... é muito doloroso tentar ter a imagem geral, assim como é chato tentar perceber o que há para além do Universo. Para isso, crio um Deus, ele resolve-me os problemas...e ainda posso jogar nas rifas da paróquia.

E agora, no fim disto tudo...apetece-me mesmo o raio de um gelado.

12.05.2008

Boas Novas

Recentemente no jornal New York Times, publicaram a notícia de que cerca de 6.7% da massa trabalhadora americana está sem emprego. Economistas apontam para uma subida a curto-prazo até aos 8 a 9% do desemprego ainda no início do ano 2009. Será, em várias décadas, a primeira vez que existem tantos desempregados nos E.U.A. e muitos mais estão para vir.

De certo modo pode parecer insignificante mencionar este tipo de notícias, até que vemos que estes recentes despedimentos e perdas de emprego já se estão a reflectir na Europa, nomeadamente na Indústria Automóvel.

De seguida, já se mostram indícios de que o mundo artístico já começa a sofrer. A indústria que estou a falar é a do Cinema, neste caso, Hollywood.
Têm aparecido notícias de que algumas produtoras independentes de menor recursos financeiros, já se viram obrigados a retirar fundos a certos pequenos estúdios, e a se recusarem a aceitarem aplicações de trabalho; aliás até grandes produtoras norte-americanas como New Line Cinema ou a Paramount Pictures se viram obrigadas a começar a cortar fundos para determinados departamentos criativos.

E vocês dizem: "Isto é muito interessante, mas onde afecta a minha felicidade?". Não afecta têm razão, mas agora partilho algo que descobri embora já tivesse ideia de que isto cá neste glorioso País, estivesse a dirigir para o mesmo caminho.

Estive à conversa com um conhecido que está dar um Workshop de Técnicas de Som; esta pessoa em questão trabalha para a SIC, num estúdio de Som que trata maioritáriamente de trabalhar em banda sonora de documentários e reportagens do canal em questão, e de fazer o Som de várias peças, seja gravando música, seja tendo actores a gravar voz em estúdio, ou simplesmente a fazer a mistura final de qualquer tipo de peças que lhes apareça à frente. Nessa conversa inquiri sobre como o canal, ou o estúdio, pensa ou tenta em arranjar jovens que estão interessados em fazer uma carreira e estejam interessados em trabalhar em Som e aprender os vários ofícios da profissão (e são muitos), o dito conhecido disse que de momento não podem arriscar a arranjar emprego ou estágio seja a quem for que já não tenha uns bons anos de experiência em trabalho de estúdio, e tudo por uma razão, os "Homens de Fato" do canal não querem arriscar a formar novas pessoas, pois o dinheiro já é pouco e não podem ter prejuízo.

Cinema em si, e qualquer tipo de trabalho que se aproxime da àrea como a televisão, é uma indústria (em Portugal) elitista, e com isto, não se quer dizer que só os maiores conseguem trabalhar nela, não; aliás cá, a maioria dos que trabalham nela nem estão talhados para esse trabalho, e com o crescer da incompetência neste e outros empregos que façam parte de uma indústria pequena, não se pode culpar a industria por se querer proteger a ela própria, e minimizar custos de risco. Querem um conselho? Começem a tentar candidatar-se a Erasmus, todos aqueles que querem vingar nesta Arte, mas infelizmente como sabem, só um pequeno número de à volta de cinco pessoas por ano, se pode dar ao luxo de sair daqui e arranjar melhores oportunidades. Quem já fez Erasmus que vos diga que a experencia é muito mais enriquecedora em meio ano, do que três anos por cá, e quando digo enriquecedora, especificamente refiro-me ao nível de aprendizagem técnica/prática.

Descendo à terra, reparamos que hoje em dia, para nós que estamos interessados em de alguma maneira entrar no mercado de trabalho, seja de que maneira for, as coisas nos próximos tempos, vão começar a tornar-se mais difíceis, e as oportunidades estão a começar a escassear. Querem comida no prato? Não se metam em Arte (Cinema incluído óbviamente) o mais certo é passarem um bom tempo na rua a tentar vender pinturas para comerem uma sopa quente, num futuro próximo. Infelizmente em cinema, não podemos ir vender o nosso conhecimento e talento na rua. Além disso, está frio lá fora.

Queridos Profetas

Eu sou um "regular Joe" ou como dizemos por estas bandas um, um gajo normal. Um normalóide, se é que esta palavra pode existir. Não existe? Não faz mal, eu quero que exista. Apetece-me.
Não pude deixar de reparar que existem forças maiores que a vida que me querem acordar do meu sonho, tão bom que ele é. Estou eu aqui, numa cadeira de praia, com um cocktail à minha esquerda, pousado numa pequena mesinha-de-cabeceira, com uma gaja de copa 34 a massajar-me as pernas (e a subir gradualmente se me percebem) e existe alguém que me anda a dar bofetadas na cara a gritar:"ACORDA!!!!ACORDA!!!" e eu a tentar recompor-me e a perguntar ao mesmo tempo:"Mas que raio de corda estão eles a falar?"

Eu não percebo a vossa mensagem. Não me interessa perceber. Vocês, estão inequivocamente errados. Se vocês estivessem certos quanto ao que querem apregoar, mais pessoas estariam do vosso lado, não é oh sabichões? Não é armando-se aos cucos e em pseudo-seja-lá-o-que-for que se engata mulheres. Isto ensino-vos eu: com elas não podem mostrar-se inteligentes, têm que mostrar ser mais tontos que elas e se puderem juntar a isso um corpo bem tonificado, têm uma boa embalagem para concorrer as calcinhas delas. Ah! Isto não sabiam vocês pois não? Sempre com menções ao Feiticeiro de Oz e ao Matrix e Total Recall, malditos livros/filmes que advocam o sentimento de encontrar o verdadeiro sentido do que experienciamos diáriamente e em o que acreditar; ainda não perceberam que isso não leva a lado nenhum? Nós os que estamos no Kansas (ou na praia como eu) preferimos coisas concretas, como, o que vou comer ao jantar? Quem vai dar-me trabalho para eu pagar a minha rendinha e pagar os meus impostozinhos? Afinal de contas, o Sôtor Sócrates não pode por este País no caminho certo se eu não fizer tudo o que ele pedir e não o questionar. O que vocês pedem de mim hem? Que eu me insurja? Que me rebelie? Que questione? Eles sabem mais do que eu!! EU pago os meus impostos àqueles doutores para que eles possam pensar por mim!! É verdade!! E admito!!

Já viram? Fizeram-me chatear!! E eu que até estava a gostar deste solzinho e a gaja estava a começar a chegar mais acima dos joelhos...

12.04.2008

O TESTE

"Mesmo as épocas de opressão são dignas de respeito, pois são a obra, não dos homens, mas da humanidade, e portanto da natureza criadora, que pode ser dura, mas nunca é absurda. Se a época que vivemos é dura,  temos o dever de a amar ainda mais, de a penetrar com o nosso amor, até que tenhamos afastado as enormes montanhas que dissimulam a luz que há para além delas"

Walter Rathenau, Para Onde Vai o Mundo?

(In)significância

Sou um grão de areia. Um nada no tudo do areal. Pisado todos os dias, chutado, atirado para lá e para cá... Levado para longe, preso. Misturado com cimento. Usado para edificar algo que não me serve. Sou um grão de areia. Para que preciso de um parque de estacionamento? De um apartamento? De um estádio de futebol? Para nada. Sou um grão de areia. Pertenço ao areal.

Será? Ser pisado, chutado todos os dias, atirado pelo vento? Não.

As ondas vêm e vão, ouvimos o seu rebentar, e logo nos esquecemos  que existem. Até à próxima que rebenta, e que voltamos a esquecer. Admiramos o seu som, a sua beleza, a sua verdade. Mas no areal está-se tão bem...

Cansei, aqui não fico mais. Vou para o Mar. Lá serei parte da natureza. Não farei parte do mundo do Homem, que se considera maior e melhor que o meio que o acolhe. Não serei mais pisado, não serei mais um instrumento para fazer cimento, recuso-me a fazer parte dessa massa informe e monocromática. Vou para o Mar. Embarcarei numa das muitas ondas que rebentam perto de mim. Não posso ignorar mais o seu convite, vou embarcar, navegar, integrar o Mar, a natureza. Serei de certeza melhor cuidado em movimento do que parado, indefeso. E se me magoar?! Cansei de me preferir ileso, de disfarçar este peso na consciência de não ser homem por conveniência. Chega. Acabou-se o moderno atrasado. Começa aqui o contemporâneo do futuro. 

Qual é a diferença? Toma o comprimido vermelho. Infelizmente ninguém pode ser dito o que é a Matriz. Tens que ver por ti próprio. Que dizes? Vai um mergulho no Mar?